Desenvolvida pelos escravos Bantus,
que praticavam em cerimônias mágico-religiosas, a capoeira desenvolveu-se
bastante em Salvador, no Rio de Janeiro e no Recife. Utilizada pelos escravos
como modalidade de luta, era treinada na fazenda com coreografia e música que
simulava uma dança inocente aos olhos dos feitores. Seu nome provavelmente
deriva das Capoeiras – lugares quase sem matos – onde os negros fugidos
enfrentavam seus perseguidores.
Com o tempo a luta sofreu influência
dos brancos e dos índios, e no século XIX difundiu-se entre os malandros,
passando a ser alvo de intensa perseguição policial com a formação de academias,
desde o inicio do século XX. Principalmente na Bahia, a capoeira tornou-se
conhecida tanto como esporte quanto como luta. Nela os lutadores aplicavam
golpes ágeis com os pés e com as mãos. Sob a marcação rítmica de uma orquestra
instrumental e cantores. Os instrumentos usados são o Berimbau, Pandeiro, Ganzá
e Caxixi.
Há três modalidades de capoeira: a
Capoeira Angola, a mais tradicional, que teve em Mestre Pastinha o seu mais
ferrenho defensor; a Regional Baiana, criada por Mestre Bimba, que introduziu
golpes de Jiu-Jítsu e boxe deixando-a mais perigosa e a estilizada, de Carlos
Sena, com disciplina e regulamentação que lhe deram caráter educativo e
esportivo.
A Capoeira foi oficializada foi
oficializada como Esporte Competitivo Nacional Brasileiro em 1972, possuindo
Federações e Associações por todo o Brasil.
As principais características do jogo
são:
A ginga e a circularidade objetivando
o toque ou desequilíbrio do vencimento da guarda adversária.
No jogo da capoeira evidenciam-se
características como agilidade, destreza, coordenação e flexibilidade, é nesse
jogo que o capoeirista dá margem a sua criatividade, primando pela consideração
e camaradagem e desenvolvendo de forma integrada os três domínios de
aprendizagem do ser humano: Psicomotor, Afetivo-Social e Cognitivo.
A prática da capoeira atende, assim
também ao desenvolvimento e ao equilíbrio do corpo humano (ao trabalhar grandes
massas musculares) como ao favorecimento do equilíbrio Psico-Afetivo.
O jogo é realizado numa área de 5
metros de diâmetro: a roda.
A indumentária do capoeira é a
seguinte: A calça branca de helanca, camiseta branca com o respectivo emblema
do grupo.
Os grandes Mestres da capoeira:
Os grandes Mestres da capoeira:
MESTRE BIMBA:
A Vida
Mestre Bimba (Manuel dos Reis Machado) filho de Luiz Cândido Machado
e Maria
Martinha do Bonfim, nasceu no bairro de Engenho Velho, freguesia
de brotas, Salvador
Bahia em 23 de novembro de 1900. Recebeu esse apelido devido a uma aposta
que sua mãe fez com a parteira que o " aparou ". Ao contrário
do que a Mãe achava, a parteira
disse que iria nascer um menino, se fosse receberia o apelido de "Bimba"
pôr se tratar, na Bahia, de um nome popular do órgão sexual masculino.
A Prática
Começou a praticar capoeira aos 12 anos de idade na estrada das
Boiadas, hoje o Bairro Negro da Liberdade, com o africano Bentinho, capitão da navegação
Baiana. Foi estivador durante 14 anos e começou a ensinar capoeira aos 18 anos de
idade no Bairro onde nasceu
no "Clube União em Apuros". Até 1918 não existia academias
como hoje e treinava-se nas
esquinas, nas portas dos armazéns e até no meio do mato.
.
O Surgimento da Regional
Consideramos ineficaz e muito folclorizada a capoeira da época,
devido ao fato de os movimentos eram extremamente disfarçados, mestre Bimba resolveu
desenvolver um estilo
de capoeira mais eficiente, inspirando-se no antigo "Batuque" (luta na
qual seu pai era um
grande lutador, considerado até um campeão) e acrescentando
a sua própria criatividade, introduziu movimentos que ele julgava necessário para que a capoeira
fosse mais eficaz.
Então em 1928, mestre Bimba criou o que ele denominou "Capoeira Regional Baiana" por ser esta praticada única e exclusivamente em Salvador.
Então em 1928, mestre Bimba criou o que ele denominou "Capoeira Regional Baiana" por ser esta praticada única e exclusivamente em Salvador.
O Reconhecimento da Capoeira no Brasil
A partir da década de 30, com a implantação do Estado
Novo, o Brasil atravessou uma fase de grandes transformações políticas e culturais, onde
os ideais nacionalistas e de modernização
ficaram em evidência.Nesse contexto, surge a oportunidade de Mestre
Bimba fazer com que o
seu novo estilo de capoeira alcançasse as classes sociais mais privilegiadas.
Em 1936 fez a 1º apresentação do trabalho e no ano seguinte foi convidado pelo governador da Bahia,o General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação do palácio do governador onde estavam presentes autoridades e convidados, inclusive o presidente da época que gostou muito da apresentação.
Dessa forma a capoeira é reconhecida como"Esporte Nacional" Mestre Bimba foi reconhecido pela Sec. Ed. Ass. Pública ao estado da Bahia como Professor de Educação física e sua academia foi a 1ª no Brasil reconhecida por Lei.
Em 1936 fez a 1º apresentação do trabalho e no ano seguinte foi convidado pelo governador da Bahia,o General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação do palácio do governador onde estavam presentes autoridades e convidados, inclusive o presidente da época que gostou muito da apresentação.
Dessa forma a capoeira é reconhecida como"Esporte Nacional" Mestre Bimba foi reconhecido pela Sec. Ed. Ass. Pública ao estado da Bahia como Professor de Educação física e sua academia foi a 1ª no Brasil reconhecida por Lei.
A diferença
O que faz com que Mestre Bimba se destacasse do demais capoeiristas de
sua época, é que
ele foi o 1º a desenvolver um sistema de ensino
e a ensinar em recinto fechado. Além desse
sistema , ele elaborou técnicas de defesa Pessoal
até mesmo contra armas . Mestre Bimba
preocupava-se demais com a imagem da Capoeira, não permitindo
treinar em sua academia
aqueles que não trabalhavam nem estudavam.
A Morte
Em 1973, Mestre Bimba, por motivos financeiros, deixou a Bahia, sob
acusação de que os "Poderes Públicos" Jamais haviam
o ajudado. Faleceu em Fevereiro de
1974 em Goiânia, vítima de um derrame cerebral.
Antigo Método de Treinamento
de Bimba
Mestre Bimba desenvolveu o 1º método de ensino que vemos a
seguir como ele funcionava:
• Exame de admissão
Dizia-se que em outros tempos, Mestre Bimba aplicava uma "Gravata" no pescoço
do
indivíduo que quisesse treinar e dizia "Agüenta ai sem chiar",
Se agüentasse o tempo que
ele mesmo determinava estaria matriculado. Mestre Bimba justificava esse
critério dizendo
que só queria macho em sua academia. Mais tarde mudou os critérios,
Submetendo o
Candidato a fazer alguns movimentos para que ele pudesse avaliar se o pretendente tinha condição ou não para praticar a capoeira regional. A próxima fase seria aprender a "Seqüência de Ensino".
Candidato a fazer alguns movimentos para que ele pudesse avaliar se o pretendente tinha condição ou não para praticar a capoeira regional. A próxima fase seria aprender a "Seqüência de Ensino".
• O Aprendizado
O aluno nesse fase aprendia o que se chamava "Seqüência de Ensino"
que eram as oito
seqüências de movimentos de ataque, esquivas e contra ataque
destinadas somente aos
iniciantes, simulando as situações mais comuns que o aluno
enfrentaria durante o jogo de capoeira.
Observação:
Esse foi o 1º método de ensino criado para ensinas alguém
a jogar capoeira e o calouro treinava essas seqüências em duplas sem o acompanhamento
dos instrumentos. Quando
estas estivessem bem decoradas o Mestre dizia: "Amanha você vai entrar no aço, no aço do Berimbau".
estas estivessem bem decoradas o Mestre dizia: "Amanha você vai entrar no aço, no aço do Berimbau".
Era comum naquele tempo dizerem que o capoeirista quando agarrado, não
tinha como
reagir. Então mestre Bimba, com sua criatividade ensinava
seus alunos quais eram as
melhores saídas.Todos esses ensinamentos faziam com que o método
de mestre Bimba
fosse incomparável e esse treinamento durava cerca de 3 meses só
então é que o aluno
seria batizado.
O Batizado
O batizado era quando o aluno jogava pela 1ª vez na roda com o acompanhamento
dos
instrumentos que era formado por 1 berimbau e 2 pandeiros. O mestre escolhia
o formado
que jogaria com o calouro e então tocava o toque que caracteriza
a capoeira regional, para
isso o calouro era colocado no centro da roda para que o formado ou o próprio
mestre
desse um apelido a ele. Escolhido o "nome de guerra" todos aplaudiam e
então o mestre
mandava o calouro pedir a "Benção" do padrinho, e ao
estender a mão para o formado
que o batizou, receberia uma "Benção"(Golpe frontal dado
com a parte inferior do pé
empurrando o adversário na altura do peito) que o jogava no chão.Era necessários pelo menos, 6 meses de treino para se formar na
Capoeira Regional. O exame era realizado em 4 domingos seguidos, no Nordeste de Amaralina, academia
do
mestre, os alunos a serem examinados eram escolhidos por ele. Durante 4
dias os alunos
eram submetidos a algumas situações onde teriam que mostrar
os valores adquiridos
durante a fase de aprendizado, como por exemplo: força, reflexo,
flexibilidade e etc. No
último domingo é que o mestre dizia quem havia sido aprovado
e então ensinava novos golpes e também marcava o dia da formatura.
A Formatura
A cerimônia iniciava com uma roda de formados antigos para que as
madrinhas e os convidados pudessem ver o que era a Capoeira Regional. Mestre Bimba ficava
ao lado
do som, que era formado por 1 Berimbau e 2 pandeiros, comandando a roda
e cantando
as músicas características da Regional.
Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do mestre.
Terminada a roda, o mestre chamava o orador que geralmente era um formado mais antigo para falar um breve histórico da Capoeira Regional e do mestre.
Após o histórico, o mestre entregava as medalhas aos paraninfos
e os lenços azuis (Graduação
dos Formados) as madrinhas.O paraninfos colocava a medalha ao lado esquerdo
do peito do
Formado e as madrinhas colocavam os lenços nos pescoços dos seus respectivos afilhados. A partir dai os formados demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua competência, incluindo os movimentos de "cintura desprezada", "jogo de floreio" e o "escrete" que era o jogo combinado com o uso dos Balões.
Formado e as madrinhas colocavam os lenços nos pescoços dos seus respectivos afilhados. A partir dai os formados demonstravam alguns movimentos a pedido do mestre para mostrar a sua competência, incluindo os movimentos de "cintura desprezada", "jogo de floreio" e o "escrete" que era o jogo combinado com o uso dos Balões.
Para terminar, chegava a hora do "Tira-medalha" onde o recém formado
jogava com um
formado antigo que tentava tirar a sua medalha com qualquer golpe aplicado
com o pé. Só
então depois de passar por isso tudo é que o aluno poderia
se considerar aluno formado de
mestre Bimba, tendo direito até de jogar na roda quando o mestre
estivesse tocando Iuna que
é o toque (onde quem joga hoje são só os mestres)
criado por ele para esse fim. A partir dai só restava o curso de especialização que veremos a
seguir.
O Curso de Especialização
Tinha duração de 3 meses, sendo 2 na academia e 1 nas matas
da Chapada do Rio Vermelho.
Tratava-se de um treinamento de guerrilha, onde aconteciam as emboscadas,
armadilhas e
etc., que consistia em submeter o formado a situações das
mais difíceis, desde defender-se
de 3 ou mais Capoeiristas, até defender-se de armas. Terminado o
curso, o mestre fazia a
mesma festa para os novos especializados, e estes recebiam o lenço
vermelho a cor que
representava a nova graduação. O aluno que se formava ou
se especializava, tinha a o dever e pendurar um quadro com a foto mestre, do padrinho, do orador, e a própria
foto.
MESTRE PASTINHA
Conforme as palavras do próprio mestre que dizia ter aprendido a capoeira com a sorte...
"Quando
eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais
taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na
venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga.
Só sei que acabava apanhando dele, sempre”. Um dia, da janela de sua casa, um velho africano de nome Benedito, que sempre assistia as lutas de pastinha disse: “Vem cá, meu filho. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui".
Só sei que acabava apanhando dele, sempre”. Um dia, da janela de sua casa, um velho africano de nome Benedito, que sempre assistia as lutas de pastinha disse: “Vem cá, meu filho. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui".
Este
foi o início de mestre Pastinha na capoeira. Vicente Ferreira Pastinha
nasceu em cinco de abril de 1889. Fruto da união entre um espanhol, José
Señor Pastinha e de uma baiana, Eugênia Maria de Carvalho, nasceu na
Rua do Tijolo em Salvador, Bahia.
Depois que o menino conheceu o velho Benedito, passou a
frequentar a sua casa todos os dias, treinando e aprendendo as mandingas
dos escravos, até que certa vez se encontrou com seu rival mas desta
vez foi diferente. Pastinha acabou levando a melhor deixando o menino no
chão e sem entender nada. Dizem os relatos que acabaram tornando-se
amigos depois.
Durante
esse período, o menino pastinha também frequenta o Liceu de Artes e
Ofício, onde aprende entre outras coisas a arte da pintura. Em 1902
Pastinha entra para e escola de aprendizes marinheiros, onde passaria
oito anos de sua vida. Lá ele ensina a arte da Capoeira aos seus colegas
e aprende também a arte da esgrima e a tocar violão. Em 1910, deu baixa
na marinha, com 21 anos, resolvido a se dedicar à pintura e ao ensino
da capoeira (às escondidas porque a capoeira ainda era proibida pelo
código penal), neste período começa a ensinar o seu primeiro aluno:
“Raimundo Aberrê”, que conforme mestre Pastinha ia todos os dias à sua
casa aprender a capoeira. De 1913 a 1934, Mestre Pastinha se afasta da
capoeira devido à forte repressão da época que mantinha a sua prática na
ilegalidade. Nesse tempo, mestre Pastinha que sempre desejou viver da
sua arte, teve que trabalhar como, pintor, pedreiro, entregador de
jornais e até tomou conta de casa de jogos. Este último relatado por ele
próprio:
“Passei
a tomar conta de casa de jogo. Para manter a ordem. Mas mesmo sendo
capoeirista eu não descuidava de um facãozinho de doze polegadas e de
dois cortes que trazia comigo. Jogador profissional daquele tempo andava
sempre armado. Assim quem estava sem arma nenhuma no meio deles bancava
o besta. Vi muita arruaça, algum sangue, mas não gosto de contar causos
de briga minha.”
A primeira academia
Em
1941 Mestre Pastinha é convidado pelo seu antigo aluno Aberrê a
assisti-lo numa roda no bairro da Gengibirra, onde segundo o mestre, era
um ponto de encontro dos maiores mestres de capoeira da Bahia. “Lá só
havia mestre, não tinha alunos” – dizia Pastinha. Aberrê disse que
perguntaram quem tinha sido seu mestre e ele dizendo o nome de Pastinha
mandaram chamá-lo ao qual Aberrê imediatamente o fez. Ao chegar à roda,
Pastinha foi apresentado para um mestre conhecido como “Amorzinho”, um
guarda civil que tomava conta da roda e imediatamente entregou o
berimbau e a responsabilidade para o mestre. Estavam lançadas as
sementes do que seria a primeira escola de Capoeira Angola. Foi fundado
então o CECA, Centro Esportivo de Capoeira Angola, nome dado pelo
próprio mestre, localizado no Largo do Cruzeiro de São Francisco. Após a
morte de Amorzinho, em 1943, o centro foi abandonado por todos os
mestres, mas mesmo assim Pastinha continuou.
Em
fevereiro de 1944 há uma reorganização e em 23 de março do mesmo ano
vão para o Centro Operário da Bahia. Em 1949, num domingo Pastinha foi
convidado por dois camaradas para ver um terreno na fábrica de sabonetes
Sicool no Bigode, onde recebeu o apoio e auxilio dos moradores. O
centro ali se instalou e foram feitas as primeiras camisas em preto e
amarelo, cores inspiradas no Clube Atlético Ypiranga, clube muito
querido pelo mestre e pelas classes sociais mais populares de Salvador.
Uma das curiosidades dessa época é que Mestre Pastinha, avaliando cada
um dos seus alunos, fazia um desenho na camisa, conforme os seus
movimentos mais característicos.
O reconhecimento
Finalmente em 1° de outubro de 1952 o CECA foi oficializado. Veja o artigo original abaixo:
“O
Centro Esportivo de Capoeira Angola, fundado a 1° de Outubro de 1952,
com sede na cidade de Salvador, Estado da Bahia, é constituído de número
limitado de sócios, tem a finalidade de ensinar, difundir e desenvolver
teórica e praticamente a capoeira de estilo genuinamente “Angola”, que
nos foi legada pelos primitivos africanos aportados aqui na Bahia de
Todos os Santos.”
Em
maio de 1955, o CECA muda de endereço e vai para o Largo do Pelourinho
n° 19, onde permaneceu por 16 anos. Durante esse tempo Mestre Pastinha
ficou muito conhecido chegando a ser entrevistado por jornais e revistas
importantes da época. Sua academia recebia visitas ilustres como, Jorge
Amado, o ilustrador Carybé, o filósofo Jean Paulo Sartre, o ator Jean
Paul Belmondo, além de turistas de todo o Brasil.
Em
cinco de julho de 1957, Mestre Pastinha apresenta a capoeira angola com
seus alunos no festival Bahiarte, na Lagoa do Abaeté onde ocorre o seu
primeiro encontro com Mestre Bimba. Os dois demonstraram passividade e
respeito um pelo outro, deixando transparecer que a rivalidade entre os
angoleiros e regionais, era criada pelos alunos e não pelos Mestres. O
CECA ainda foi apresentado em vários outros estados, como, Pernambuco,
Minas-Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.
Em 1964 o Mestre publica o seu livro intitulado “Capoeira Angola”, onde o escritor Jorge Amado teve o prazer de escrever:
“...
mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta
civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus
ilustres, um dos seus abas, de seus chefes. É o primeiro em sua arte.
Senhor da agilidade e da coragem, da lealdade e da convivência
fraternal. Em sua escola no pelourinho, Mestre Pastinha constrói cultura
brasileira, da mais real e da melhor...”
Além do livro, o mestre gravou também um disco com cinco faixas. O disco intitulado “Pastinha Eternamente”,
conta com depoimentos na voz do próprio mestre e músicas de capoeira,
cantadas por Mestre Traíra.
Em
abril de 1966, integrou a delegação brasileira no 1° Festival de Artes
Negras, no Senegal, Dakar na África, onde recebe várias homenagens e
confirma que na África não existe qualquer coisa que se pareça com a
nossa capoeira. Com todo esse destaque Mestre Pastinha começa a receber o
apoio de várias instituições governamentais até que em 1971 o destino
(ou o sistema) lhe pregaria uma grande peça.
O golpe, a ingratidão, o descaso
Em
1971 aos oitenta e dois anos de idade, Pastinha já quase cego por causa
de uma catarata, é obrigado pela prefeitura a se retirar do casarão,
que entraria em reformas, com a promessa de que assim que estivesse
pronto poderia voltar. E voltou?
Mestre
Pastinha teve então que se mudar. Foi morar na Rua Alfredo Brito n° 14
no Pelourinho, em um quarto escuro, úmido e sem janelas. Único lugar que
dava para pagar com o mísero salário que recebia da prefeitura, já que
não podia contar mais com o dinheiro das aulas. Ainda na mudança, foram
perdidos muitos móveis, quadros que o mestre pintava e fotografias, que
juntos hoje, constituiriam um grande acervo cultural da nossa história.
Para
piorar o prédio foi doado para o Patrimônio Histórico da Fundação do
Pelourinho que posteriormente o vendeu para o SENAC que transformou o
prédio em um restaurante.
Este foi um dos maiores absurdos praticados contra a nossa cultura. Mestre Pastinha foi usado, enganado e abandonado.
Tristeza
Após
a mudança e a perda de sua academia, Pastinha entra em uma profunda
depressão e em 1979 com 90 anos é vítima de um derrame cerebral, que o
levou a ficar internado por um ano em um hospital público. Após esse
período foi enviado para o abrigo para idosos Dom Pedro II, onde
permaneceu até a sua morte. Mestre Pastinha morreu cego, quase
paralítico e abandonado.
No
dia 13 de novembro de 1981, aos 92 anos, o Brasil perdia um dos seus
maiores mestres. Não só o mestre da capoeira angola, mas o mestre da
filosofia popular. O menino fraco e magrinho que conquistou o respeito e
admiração do mais forte.
A estrela ainda brilha
Mestre
Pastinha foi um dos maiores ícones da cultura do Brasil. Dedicou sua
vida inteira em favor da nossa cultura, ajudou a tirar a capoeira da
ilegalidade e a colocá-la no seu devido lugar como prática esportiva e
cultural, preservou e divulgou a nossa arte até fora do país, ensinou
jovens e adultos a enxergar a vida de uma forma simples, mas nobre.
Mestre Pastinha foi uma estrela que veio para a terra em forma de homem,
para nos ensinar a filosofia da simplicidade, mas teve que voltar ao
céu, pois o seu brilho já não cabia mais aqui em um lugar tão pequeno.
Um homem que transformou e formou crianças em grandes adultos e fez os
mais velhos brincarem como crianças, literalmente de pernas pro ar.
Os frutos
Os
mais antigos discípulos do mestre em atividade são: Mestre João
Pequeno, que reabriu o CECA um ano depois da morte de Pastinha, no Forte
de Santo Antônio do Carmo e Mestre João Grande, que reside em Nova York
desde 1990, onde ensina capoeira para pessoas do mundo todo.
Hoje
a memória de Mestre Pastinha continua viva nas rodas de capoeira que se
espalharam pelos quatro cantos do mundo. E em cada uma dessas rodas,
onde são entoadas as ladainhas da Capoeira Angola, Mestre Pastinha está
lá.
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